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Turquia

Antália e o choque cultural

Antália é uma das cidades mais europeias (ou russa) da Turquia e quem a visita como turista não costuma experienciar qualquer tipo de choque cultural. Mas em 2013, Antália foi a minha casa enquanto fazia um estágio de voluntariado pela AIESEC durante um mês e meio. Era a primeira vez que estava num país muçulmano fora da Europa e isso, obviamente trouxe uma enxurrada de coisas que nunca tinha ouvido ou presenciado na minha vidinha.

Depois da primeira semana já tudo me parecia normalíssimo, mas durante os primeiros dias fiquei de queixo caído com algumas situações. Felizmente vivi todas as aventuras e desventuras com a minha colega de quarto de Singapura, Sarah, que tem mais ou menos os mesmos standards de normalidade que eu.

E o top momentos WTF vai para…

1º Mandadas calar em autocarros. Isto aconteceu-nos umas três vezes até aprendermos que não devíamos falar nos autocarros. Cada vez que nos entusiasmávamos e começávamos a falar mais alto ou a rir recebíamos olhares fulminantes e “shhhhhhhhhhs” e outras palavras que não compreendíamos. Até hoje não percebo se era por sermos mulher ou por falarmos em inglês ou uma mistura de ambas as coisas, porque em Istambul isto nunca me aconteceu.

2º O Islão. Como disse inicialmente, Antália é uma cidade mais europeia que turca, mas não deixa de estar num país muçulmano. Por isso, as mesquitas “cantam” 5 vezes por dia para chamar os fiéis para rezar. Nas primeiras noites acordava sempre de sobressalto com os “berros” da mesquita, porque aquilo é algo do género “ALLAHADFNBOKCF AAAAAAAAAAAAAA” e achava que eram confrontos na rua (foi na altura que a Turquia toda andava em confrontos).

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Para além disso, estávamos em pleno Ramadão, coisa sobre a qual eu nunca tinha ouvido falar e ver pessoas a passar dias inteiros com 40 graus sem tocar numa gota de água desde as 4 da manhã até 8 da noite, fazia-me (e ainda faz) alguma espécie.

3º Os autocarros. Para além de sermos mandadas calar, os autocarros de Antália vivem em absoluta anarquia. Cada condutor decora o seu autocarro como quer (o que basicamente significa carpetes no chão, espelhos e peluches ou coisas felpudas como objectos decorativos no lugar do condutor), conduz como quer e pára onde quer. Mesmo assim conseguem ser melhores que a Carris.

a bela da carpete
a bela da carpete

4º Os Turcos. Eu adoro os Turcos. Ainda não percebi porquê, mas acho que são um povo muito porreiro e dou-me muito bem com a maioria dos Turcos que conheci (e já conheci muitos). Os turcos são uma grande mistura: tanto têm características muito mediterrâneas como características normalmente associadas ao médio oriente. Estas foram as minhas primeiras impressões:

– Não cumprimentam as raparigas que não conhecem com beijinhos, mas aos rapazes sim!

– Ao mesmo tempo são muito atiradiços com raparigas ocidentais porque acham que somos mais “fáceis”.

– São muito hospitaleiros. Só o facto de os nossos “hosts” terem acolhido duas raparigas durante 6 semanas na sua casa sem pedir nada em troca já mostra que são bem fofinhos. Também tentam sempre dar-te comida, chá e mais comida e mais chá. Não entendem os conceitos abstractos de não se gostar de chá preto ou baklava.

– Também têm malucos. Fomos perseguidas à noite, quando estávamos a ir ter com uns amigos, por um homem com uma balança na mão que gritava.

5º A nossa casa. Antália tem alguns problemas de baratas e quando se deixa louça por lavar na cozinha, é estar a pedi-las. Para além de não desejarmos cruzar-nos com baratas, também não tínhamos água quente na cozinha, o que deu aso a começarmos a lavar louça e roupa na banheira. Fotografias épicas saíram destes momentos.

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Como se as baratinhas não chegassem, também havia formigas, e eu que dormia quase no chão, acordei várias vezes com algumas a olhar por mim. Mas pronto, elas não fazem mal e são discretas.

No último dia também descobrimos que a porta que estava sempre fechada, afinal era uma casa de banho estilo turca. Era uma divisão um bocado perturbadora, ainda bem que só descobrimos este pequeno segredo no último dia.

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E é isto. É claro que durante as 6 semanas que estive em Antália muito mais aconteceu, mas estas são as memórias que mais me fazem rir e que na altura me fizeram pensar “onde raio é que me vim meter”.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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