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Escolher Viajar

Invariavelmente, quem viaja muito ouve sempre os comentários “como é que consegues?” “quem me dera” e “deves ser rico/a”. Com muita tristeza minha (ou não) não sou rica e as viagens que faço vêm de uma combinação de factores que vou apelidar: uma sorte do caraças e as escolhas que faço.

Sorte do caraças

Apesar de não ter nascido num berço de ouro, nasci no quarto país com o passaporte mais forte do mundo, que me permite chegar a 155 países sem burocracias nem muitas despesas. Nasci num país que entrou para o Euro o que me dá uma vantagem gigantesca a nível de poder de compra sobre quase todo o mundo. Nasci numa família de pessoas que gosta de viajar mesmo que seja a contar os cêntimos todos. Que me ensinou que não podia ter tudo o que queria para depois podermos fazer aquela(s) viagem todos os anos. Nasci em Lisboa, onde existe mais oferta de voos, e como sempre estudei por aqui, nunca tive grandes despesas para suportar.

Tudo isto são factores fora do meu controlo, mas que tornam viajar nalgo bastante tangível. Sei que é um privilégio, mas já que tive essa sorte vou aproveitá-la ao máximo.

Mas a vida não é só feita de sorte e é daí que vêm as escolhas que, acredites ou não, vão ser o que mais influencia as tuas viagens.

Escolhas que faço

Existem dois tipos de escolhas no que toca a viajar: a escolha de poupar em tudo e mais alguma coisa para poder realizar a viagem e a forma como viajas.

“Grão a grão, enche a galinha o papo”

Reza a lenda que sempre fui de poupança voraz. Nunca fui particularmente boa a gastar dinheiro em coisas porque sempre achei que nada muito pouco me faz falta (e continuo assim). Quando era mais miúda o dinheiro que recebia ou poupava ou ia para livros. Agora o dinheiro que recebo para além de pagar as minhas despesas pessoais tem um outro destino: as viagens.

O processo não é muito difícil: para quase toda a decisão de compra que tenho que fazer penso “isto dava um bilhete para… Quatro noites num hostel em… 10 refeições na…“. E isso faz-me comprar quase só o estritamente necessário.

Se tens que mudar o teu estilo de vida? Provavelmente sim. Se estás disposto/a a fazer isso para viajar? Isso já é contigo. As minhas dicas ficam aqui:

  1. Esquece roupas novas, sapatos, malas, maquilhagem e unhas de gel, concertos, cinema… Até livros.

Bem, como é óbvio, para poupar dinheiro é preciso não o gastar! Isso envolve abdicar de comprar tudo o que não é essencial à sobrevivência. É claro que não precisas de morrer para a vida, existem sempre alternativas como bibliotecas, Pirate Bay, concertos gratuitos, jantares em casa de amigos… Quanto a bens materiais, quanto menos tiveres melhor, porque uma mochila de viagem não pode ir muito pesada 😉

2. Leva todas as refeições para o emprego/faculdade e reduz os jantares fora

Cinco euros por dia, 5 dias por semana, 4 semanas por mês dá 100 euros. Mais o pastel de nata, o pão-de-leite com fiambre e os cafés dá um total de 150 euros por mês ou mais num instante. E isto é se conseguires almoçar por 5 euros! Por isso toca a duplicar as quantidades do jantar, a encher o congelador e a pegar na bela da marmita.

3. Diz olá aos transportes públicos!

Se fores tão naba/o como eu que tenho medo de conduzir, isto nem é uma mudança, é só o dia-a-dia. Em Lisboa, andar de transportes públicos custa 36 euros por mês, o que é algo como meio depósito (???). Eu sei que os transportes são uma merda, mas também são uma forma de fazeres mais exercício, ficares com um sistema imunitário mais forte, de aumentares a tua capacidade de meditação enquanto espera 20 minutos pelo próximo autocarro e de te cruzares com pessoas loucas de vez em quando. Mmmm quem é que disse que não era espectacular?

4. Vende o que já não precisas

OLX, Cash Converters, Feira da Ladra, amigos… podes sempre aproveitar para fazer algum dinheirinho extra e vender coisas que já não usas ou precisas.

Diz-me como viajas, dir-te-ei quanto gastas

As tuas escolhas durante o planeamento e durante a viagem em si vão ser, provavelmente, os maiores determinantes na quantidade de dinheiro que gastas. Dou-te um exemplo: em 2012 fiz um Interrail de 25 dias na Europa. Gastei 1100 euros incluindo todos os transportes, alojamento, refeições, museus, etc. O ano passado fui a nova Iorque e em 10 dias gastei 1000 euros sem avião e quase sem alojamento. É claro que o destino influencia a coisa, mas a enquanto durante o Interrail só comi fora nos sítios que eram verdadeiramente baratos (Budapeste e Cracóvia), cozinhei todos os dias no hostel e nunca fui sair à noite em nova Iorque foi o oposto. E acredita, a diferença é gigante.

Por isso, aqui ficam as minhas dicas para viajar com pouco:

O destino: A escolha do destino é um dos factores mais influentes do preço da tua viagem. Um quarto em Nova Iorque num hostel custa 55 euros por noite. No Camboja custa 3 euros por noite. Um bilhete de avião para a Austrália são quase 1000 euros, por esse valor consegues viajar um mês na europa. Neste link tens algumas ideias quanto aos destinos mais baratos.

O tempo: O tempo que tens disponível pode ajudar na redução de custos. Viajar de camioneta ou comboio em vez de avião, datas mais flexíveis permitem-te viajar em época baixa e encontrares aquele voo abaixo do preço médio… Também te permite optares por fazer voluntariado ou trabalhares num hostel a troco de cama e comida, por exemplo.

Tours organizadas vs going solo: As agências de viagem tradicionais dão-me um bocado de comichão porque já trabalhei numa e sei que põe 30 ou 40% de comissão em tudo. Bem sei que têm acordos privilegiados com companhias aéreas e hotéis, mas salvo raras excepções acho que não compensa minimamente (para além da falta de flexibilidade). Por outro lado, as agências de viagem locais às vezes têm tours a sítios só acessíveis com carro e podem ser um bom método para escapar ao stress do aluguer e de relaxar por um dia ou dois sem termos que nos preocupar com planeamentos.

Hoje em dia já existem algumas agências para o segmento backpacker que proporcionam viagens a preços acessíveis. Recomendo-te a procurares sempre por opiniões no Tripadvisor e Facebook antes de fazeres a tua escolha.

Por fim deixo outras ideias em cima da mesa como: couchsurfing, fazer as tuas próprias refeições com comida comprada no supermercado ou optar por streetfood, pesquisar quais são os monumentos de entrada livre (ou quais os dias de entrada grátis), andar a pé, etc, etc!

Para outras ideias e sugestões deixo-te a Bibliografia do Viajante que compila todas as melhores dicas para viagens low cost onde podes encontrar formas de não pagar por alojamento durante semanas ou meses.

Como podes ver, viajar pode ser mais do que um sonho, pode ser uma escolha. Do que é que estás à espera para começar a planear a tua?

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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