lago mckenzie lake australia
Austrália

K’gari ou Fraser Island: o melhor da Austrália na maior ilha de areia do mundo

Os três dias que passei em K’gari foram o ponto alto da minha viagem à Austrália. Será justo dizer que esta ilha tem uma certa magia sobre ela, algo que a torna única no mundo com paisagens e fenómenos naturais capazes de surpreender e maravilhar qualquer viajante.

 Mas tenho a certeza que a minha experiência não teria sido a mesma se não tivesse ido com a Dropbear Adventures. Eles são conhecidos por serem os melhores guias na ilha e os preços são iguais aos de todas as outras empresas. A diferença? A paixão e entrega que têm pela ilha e o facto de serem sempre a primeira tour a chegar aos sítios, o que faz uma diferença enorme num lugar tão turístico como a Fraser Island.

 Eu escolhi a tour de três dias por ser a mais completa e acho que vale muito a pena. Apesar de serem 340€ e uma machadada na conta bancária, acho que é a única forma de se aproveitar e conhecer verdadeiramente a ilha. No total podem ir até 32 pessoas por grupo, mas na minha éramos só 28. Acampámos em tendas junto à praia, comíamos todos em conjunto as deliciosas refeições que a equipa preparava (mais uma vantagem, nas outras tours tens que fazer a tua própria comida) e durante três dias não tomámos banho. Mas nadávamos em lagos de água doce, o que é quase igual!

As deslocações eram feitas em jipes conduzidos por nós – até eu conduzi uma vez e toda a gente que me conhece sabe que eu sou terrível nisso – o que torna a aventura muito mais especial.

E agora vamos ao que interessa, os tesouros de K’gari:


Lake MacKenszie: 
Que sítio maravilhoso! Um lago de água doce, com a areia mais branca que já vi e tons de azul impossíveis. É um sítio incrível para nadar, nadei 1km lá, e para relaxar, especialmente antes de chegar toda a gente. Nós fomos os primeiros a chegar, tínhamos sol e poucas núvens e o resultado foi este espelho de água lindíssimo. Se fores sem tours, aconselho a chegar antes das 7 da manhã.

O nosso guia: Troy

Maheno Ship Wreck: 
São os destroços de um navio hospital que serviu na primeira guerra mundial. É um lugar muito importante tanto para os australianos como para os neo zelandeses e tive a sorte de visitar no ANZAC day, 25 de Abril, um dia que celebra os soldados de ambos os países pela sua intervenção na primeira guerra mundial onde milhares de vidas foram perdidas.


Champagne Pools: 
Piscinas naturais, que fazem bolhinhas cada vez que as ondas batem. A coisa mais gira são os peixinhos e a vida marinha das piscinas. E a vista sobre a costa no caminho para lá é espectacular.


Indian Head:
 Ou “cabeça de índio” é o nome deste miradouro natural formado por rochas que oferece uma vista panorâmica sobre K’gari. O nome remonta ao ano de 1770 quando o Capitão Cook passou por aquela ilha de barco e viu vários aborígenes (Butchulla) e, como toda a boa gente branca daquela época, decidiu apelidá-los de índios por causa da sua cor. Para além das boas vistas sobre a terra, também é o lugar mais famoso da ilha para tentar observar vida marinha (tartarugas, golfinhos e tubarões) e a migração das baleias na sua altura.

Eli Creek: 
Uma ribeira de água límpida e cristalina onde te podes divertir a flutuar até ao mar. Também fomos os primeiros a chegar, mas como desta vez estava um bocado frio e ninguém queria nadar. Resolveu-se com uma guerra de água!



Lake Wabby: 
Após uma caminhada de 45 minutos encontras quase um deserto do Sahara com um oásis chamado Lake Wabby. É um lago verde, sem qualquer visibilidade, e que parece a casa perfeita para crocodilos e outras coisas que te podem matar, mas prometo que só existem mini peixinhos que gostam de pele morta. Nas dunas, tentámos usar um boomerang e devo dizer que todas as raparigas falharam miseravelmente, sendo eu a que falhei mais – devo ter atingido uns 10 cm. Como o meu guia dizia “boomerang expecting is an extreme sport” porque olhar para aquilo a voltar na tua direcção a alta velocidade é aterrador!

Constelações, galáxias e planton bioluminescente

Além das coisas maravilhosas que a ilha tem para ver durante o dia, durante a noite existe todo um outro universo para observar.
À noite, o nosso guia explicou-nos todas as constelações que podíamos ver e para além disso ainda conseguimos ver a via láctea, a galáxia andromeda e “magellanic clouds”. E a surpresa final foi quando nos disseram que se fizéssemos um moonwalk na areia veríamos “pixy dusk” ou pozinhos de prelimpimpim. E assim foi! Ao arrastar os pés na areia conseguíamos ver que esta brilhava, com infinitos pontos azuis que se iluminavam com os nossos movimentos. Tão bom!

Fotografia de Tobi Klanner, Instagram @tobiklanner. Fotos de drone incríveis.

K’gari ou Fraser Island?

E agora, uma pequena história sobre este paraíso.

Antes dos europeus chegarem à Austrália, já K’gari (lê-se Gári) era habitada pelos Butchulla há milhares de anos. Para eles, este é um lugar sagrado, com uma lenda que tem o seu começo no início do mundo. E segue mais ou menos nestes termos:

Beiral, o grande deus no céu, criou as pessoas. Mas depois de as ter criado, percebeu que não tinha nenhum sítio onde as pôr. Por isso, enviou um mensageiro, Yendingie, para resolver este problema e criar terras para todas as pessoas. Yendingie desceu, assim, dos céus, e começou a criar mares e oceanos e depois terras. Quando chegou ao sítio que é agora conhecido como Hervey Bay, encontrou a ajuda de uma “espírita” chamada Princesa K’gari.

K’gari era uma ajudante maravilhosa e ajudou-o a criar zonas costeiras, montanhas, lagos e rios. Trabalhou tanto e durante tanto tempo que um dia Yendingie disse-lhe que devia descansar numas rochas sobre o mar. E ela foi. Quando acordou do seu longo sono, K’gari disse que aquele era o sítio mais bonito que alguma vez tinha criado e que queria ficar ali para sempre. Depois de uma discussão sobre o que é ou não adequado para espíritos e criaturas divinas, Yendingie lá concordou. Mas disse “não podes ficar aqui em forma de espírito, vou ter que te mudar”.

E assim fez, transformando-a numa ilha lindíssima. Para que não se sentisse só, acrescentou-lhe árvores e flores e lagos-espelho para que ela pudesse ver o que ele fazia nos céus. Deu-lhe nascentes e riachos para que fossem a sua voz e pássaros, animais e pessoas para lhe fazerem companhia. A estas pessoas, deu-lhes conhecimento, leis e ensinou-lhes como criar descendentes para que K’gari nunca ficasse sozinha.

E hoje, ela ainda lá está, a olhar para os céus num dos sítios mais bonitos do mundo. E está muito feliz, no e sendo “paraíso”.

– adaptado de um conto contado por um ancião Butchulla, Olga Miller

K’gari, que significa paraíso, é agora aceite como nome oficial para a Fraser Island. Durante muitos anos os Butchulla lutaram para que este fosse o nome oficial da ilha, uma vez que o nome Fraser Island vem de Elisabeth Fraser, a viúva escocesa do homem a quem a ilha uma vez pertenceu. O problema é que Elisabeth Fraser foi, digamos, uma cabra. Quando o navio onde ela viajava naufragou na Fraser Island, os Butchulla salvaram-na, mas quando ela regressou a terras de sua majestade disse que tinha sido raptada por eles e pintou-os como sendo um bando de selvagens perigosos só para criar uma história polémica, que até foi adaptada a uma peça de teatro!

Isto resultou na estigmatização dos Butchulla que foram largamente assassinados pelos Europeus. Hoje, restam muito poucos descendentes dos Butchulla, contudo os que restam trabalham em conjunto com autoridades locais para preservar a sua história e legado cultural.

E pronto, é por isto que toda a gente que sabe desta história se recusa a chamar “Fraser Island” a um sítio que é um paraíso na terra, um K’gari. Ouvir tudo isto no topo da Indian Head foi um dos pontos altos da viagem e uma das razões pelas quais não posso deixar de recomendar a Dropbbear.

Dicas rápidas:

Ponto de partida: Existem duas opções: Rainbow Beach ou Noosa. Eu parti de Noosa e recomendo porque podes conduzir por toda a Rainbow Beach que tem rochedos com cores fantásticas. Para além disso, é um sítio muito mais bonito e interessante do que a vila de Rainbow Beach.

Rainbow beach

Alimentação: comida foi algo que nunca faltou. Os pequenos almoços e jantares são divinais. Já os almoços são wraps, wraps e mais wraps. Como na ilha não há supermercados, aconselho a levares fruta porque é um das coisas que não vai ver durante três dias. E álcool! Apesar desta tour não ser particulamente “festival” o pessoal junta-se na praia à noite a conversar e a beber cerveja.

Roupa: O mínimo possível, não vais tomar banho por isso também não interessa muito. Aconselho uma ou duas peças mais quentes porque à noite pode ficar frio.

Luxo: não existe. Li alguns comentários no trip advidor que pareciam desapontados com a “falta de condições”. Bem, é um acampamento numa ilha sem electricidade, sem rede, sem sistema de esgotos… Não há muito a fazer 🙂

Dingos: no início andávamos todos preocupadíssimos e com paus gigantes caso um dingo aparecesse. Ele aparecem, normalmente sozinhos, um ou outro mas nunca os vi sequer a mostrar os dentes. Aconselho a manteres-te alerta mas não me pareceu um perigo iminente.


Não fazer uma tour
: é possível visitar a ilha sem uma tour organizada. Tens que ter um carro 4WD (jipe), creio que existe um preço a pagar pelo parque natural e existem pontos onde é permitido acampar e até algum alojamento local. Muito sinceramente, eu não optaria por fazê-lo independentemente porque muitos dos caminhos por onde conduzimos não foram fáceis e porque entre 5 tipos de cobras mortais, Dingos e sabe-se lá mais o quê prefiro ter alguém que conheça o local a guiar-me. Mas existem várias pessoas a fazê-lo e nos grupos de facebook podes encontrar pessoas que anunciam as suas viagens à procura de mais companheiros.Acho que assim muito resumidamente (ou não) consegui explicar e mostrar por que é que a Fraser Island é o meu sítio preferido na Austrália e inspirar-te a descobri-lo. Já agora, é proibido tomar banho no mar, porque existem muitos tubarões e alforrecas mortais!

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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