Mal nos metemos no autocarro de Yazd para Isfahan sabíamos que estávamos a chegar ao fim desta incrível jornada. Ia ser a última cidade onde íamos pernoitar. Ficámos na Anar Guesthouse, a casa de uma família iraniana muito acolhedora que recebe turistas.
Assim que a Mashad, a filha, nos abriu a porta sentimo-nos em casa. E logo a seguir disse as palavras mágicas: “a minha irmã vai dar uma aula de cozinha hoje. Querem participar?”. SIM, SIM, SIM, foi a minha resposta imediata. Estava pronta para aprender os segredos da cozinha iraniana.
Uma viagem pela cozinha e problemas do Irão
E assim foi, passei a noite com mais um casal de noruegueses, um de suíços e um belga a cozinhar sob as ordens da Maryam, a versão iraniana do Gordon Ramsay, que não aceitava nada menos que perfeição!
Durante o jantar percebemos que ela é uma das iranianas que mal pode esperar pelo dia em que vai conseguir andar livremente pela rua, sem lenços, sem restrições. Contou-nos a triste história do dia em que a sua filha, de 15 anos, foi levada por dois “polícias” da Sepah (um organização religiosa extremamente poderosa, com o seu próprio exército, bancos e infra-estruturas) para a esquadra por ter umas calças demasiado curtas e onde foi obrigada a assinar um documento como nunca mais andaria assim vestida.
Cozinhámos 4 pratos com nomes impronunciáveis e aqui vão algumas considerações sobre a gastronomia iraniana:
– Manteiga: há manteiga em tudo. Eles usam ghee, manteiga clarificada que hoje em dia já se pode encontrar em muitos supermercados. A maior diferença entre esta manteiga e a normal é que a manteiga clarificada não tem lactose.
– Beringelas! Um dos ingredientes preferidos dos iranianos. Assadas, fritas, estufadas, tudo se pode fazer com beringelas 😀
– Especiarias: Hafta advieh é uma mistura de sete especiarias que os iranianos põem em todos os pratos que cozinham. Aqui está um exemplo de proporções, tudo em pó:
– Tumeric (100 gramas); Curcuma ou açafrão das índias
– Cumin (50 gramas); Cominhos
– Sumac (50 gramas); Sumagre
– Paprika (50 gramas); Pimentão Doce
– Safflower (50 gramas); Cártamo
– Cinnamon (50 gramas); Canela
– Cardamom (50 gramas) Cardamomo
– Açafrão: para além destas especiarias os iranianos também usam açafrão em tudo. Em quantidades bastante menores porque é muito mais caro, claro.
Quando voltar a viver numa casa com uma cozinha decente faço as receitas e partilho aqui 😉
Nem é preciso dizer que estava tudo delicioso e que para além de nos divertirmos imenso, até porque o grupo era super entusiasmado, comemos que nem uns reis. Podes encontrar a Maryam no Instagram.
Overdose de religião: as igrejas e mesquitas de Isfahan
Melhor pequeno almoço que comemos no Irão!
O nosso hostel estava muito próximo do bairro arménio e começámos por andar até à Igreja Bethlehem famosa, tal como a Vank Cathedral, pelo seu interior dourado e pinturas detalhadas.
É arrebatadora ao primeiro olhar. Todos os centímetros da igreja estão cobertos com pinturas ou ouro. Os desenhos intrincados da cúpula são maravilhosos. Na minha opinião esta igreja é mais interessante de se visitar do que a Vank tanto por ser menos turística e metade do preço como por ser igualmente bonita. Nós fomos às duas, ainda tínhamos muitos Rials para gastar :p
Vank Cathedral
E agora para algo mais iraniano…
Caminhámos em direcção ao centro, passando a ponte Si-o-Se Pol que hoje em dia é um pouco inútil uma vez que o rio está seco. O nosso destino era a Praça Naghsh-e Jahan onde se reúnem as maiores atracções de Isfahan e os mais simpáticos vendedores de carpetes do mundo.
É impossível que durante a tua visita ao Irão não acabes numa loja de carpetes onde te vão apresentar todos os tipo de carpetes que existem. Felizmente os vendedores iranianos não são particularmente agressivos e quando percebem que não vale a pena deixam-te ir em paz. Mas é uma experiência engraçada.
A primeira mesquita que visitámos foi a Abbasi Great Mosque, um complexo gigante e impressionante capaz de deixar qualquer um de queixo caído. À noite e durante as orações a entrada é gratuita, mas também tem muito mais gente.
E por fim, a Sheikh Lotfollah Mosque, uma das mesquitas mais fotogénicas do Irão que até está na capa do guia da Lonely Planet!
O resto do dia foi passado a vaguear pelas ruas do interminável bazar de Isfahan e passámos por uma outra ponte, a Khaju Bridge. A cidade deve ser tão mais bonita quando tem um rio!
Ainda tivemos tempo de visitar a sede da TAP Persia, a agência com que marquei todos os meus bilhetes de autocarro. Já sabia, pelas mensagens, que eram uns bacanos, mas não fazia ideia que eram uma startup de 5 ou 6 “miúdos” com 30 anos no máximo que perceberam o valor a internet e em pouco tempo se tornaram numa das agências mais famosas do Irão.
Adorei conhecê-los. Pessoas que já viajaram, viveram noutros países e voltaram para o Irão para tentar fazer algo pelo seu país. E conseguiram.
À noite tive a brilhante ideia de pedir à Mashad se ela e a irmã nos podiam fazer um jantar, para nós e para mais um casal de tugas que também lá estava hospedado. E assim foi: ficámos horas à conversa no simpático pátio da casa com um jantar formidável. Perfeito.
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