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Como planear uma viagem em dez passos

Planear uma viagem, especialmente uma viagem longa, pode parecer um processo longo e intimidante. Para mim, é um dos grandes prazeres da vida! O dia em que começo a pesquisar voos, ler blogues e olhar para o Google Maps marca o início de uma nova aventura.

Neste post ajudo-te a responder a algumas das muitas questões que surgem quando se planeia uma viagem. Vamos?


Primeiro Passo: Define o teu orçamento

O teu orçamento vai definir onde podes ir, como e por quanto tempo. Algumas pessoas viajam durante um mês por 500€ ou menos e outras gastam o mesmo valor num dia. Por isso, pensa qual é o valor que estás disposto/a a gastar e como vais querer gastá-lo.

Também há que ter em conta que há destinos onde podes viajar por 10/15€ por dia (Cambodja, Laos, Vietnam, Tailândia, Indonésia) e outros onde esse valor te compra uma sandes (Suíça, Noruega, Dinamarca). Costumo achar que para uma viagem de menos de dez dias, mais vale poupar nos voos e visitar destinos que não passem as quatro horas de voo e que para viagens mais longas o custo dos voos compensa os preços baixos do destino.

Podes ler mais sobre como viajar com pouco ou nenhum dinheiro neste post e sobre como poupar dinheiro para viajar aqui.


Segundo Passo: Escolhe a tua companhia

Este ponto pode ser um “make or break. Quando vais numa viagem de fim-de-semana ou de uma semana não precisas de pensar muito com quem vais. Não é assim tão difícil combinar coisas e concordar coisas com outra(as) pessoa(s) durante um curto espaço de tempo.

Contudo, se pensarmos em três/seis meses, um ano? É provável que não existam muitas pessoas com quem te consegues dar 24 horas por dia durante tanto tempo! 

Por outro lado, também é possível que não encontres ninguém para fazer a “viagem da tua vida” contigo até porque nem toda a gente quer/pode gastar rios de dinheiro numa viagem e os 22 dias oficiais de férias não dão tempo para longas aventuras. Por estas razões, muitas vezes escolho viajar sozinha e, na verdade, é a minha forma preferida de viajar. Se também estás a pensar viajar sozinho/a este eBook grátis é para ti! 

Terceiro Passo: Vou/Vamos para onde?

Esta escolha está altamente dependente de factores como: tempo disponível, orçamento, clima do destino, se é época alta ou baixa e gosto pessoal. Como tenho uma lista interminável de países para visitar costumo olhar para o mapa e pensar se o tempo que tenho dá para ver tudo o que quero. Também considero o clima, a situação política (muitos dos países para onde viajo podem ser instáveis) e festivais religiosos como o Ramadão, etc. 

O Google Maps é uma ferramenta indispensável nesta parte do planeamento porque te vai ajudar a perceber distâncias e o que é, ou não, realista.

Dou-te um exemplo: quando estava a planear a minha viagem mais longa (até agora), inicialmente queria fazer três países do Sudoeste Asiático, Austrália e América do Sul + Central.

Entretanto, lembrei-me que só tinha seis meses e que viajar na América do Sul demora imenso tempo. Também pesquisei preços, e percebi que o custo de ir da Austrália para Buenos Aires é, no mínimo, 600/700€ e li que não podia fazer trekking na Patagónia – uma das coisas que mais queria – porque quando lá ia chegar seria Inverno e os trilhos estariam interditos.

Como podes ver, todas as variáveis pesaram na minha decisão e há que pesquisar um pouco para ver o que é possível fazer. Provavelmente terás que definir prioridades já que também não precisas de ver o mundo todo só de uma vez – pelo menos é disso que me tento convencer!
  


Quarto Passo: Traça o teu itinerário

É altura de mergulhar em sites, guias de viagem, blogues, Pinterest, Instagram, grupos de viajantes no Facebook, mapas… tudo! Esta é a minha parte preferida da preparação, é uma pesquisa contínua pelas melhores praias, vulcões, caminhadas e cidades. Desenhar um roteiro cheio de sumo que tire máximo partido de cada lugar faz-me muito feliz.

Quando viajo com os dias e horas contadas costumo ter um itinerário bem definido e preenchido, deixo pouca coisa ao acaso. Contudo, se viajas com tempo, aconselho-te a deixar quase tudo em aberto. As tuas vontades mudam consoante as pessoas que conheces, os sítios que vês e as gastroenterites que apanhas.

Enquanto estava nas Filipinas decidi que em vez de ir para a Indonésia e Timor-Leste queria ir para o Japão. Quatro dias antes da viagem. Por isso em vez de desperdiçares dinheiro com voos que nunca vais apanhar, deixa-te levar.

O Google Maps é onde marco todos os lugares que vou descobrindo e depois é só encaixá-los nos dias de viagem!

Quinto Passo: Encontra os melhores voos

Para ser honesta não sou a melhor pessoa para dar conselhos sobre como comprar voos. Quando os custos não são completamente absurdos costumo optar por voos directos por que odeio voar e assim só passo por isso uma vez.

Claro que o ideal é ter datas flexíveis e estar disposto a fazer muitas escalas. Em Inglaterra, por exemplo, também é bom pesquisar por diferentes aeroportos (tenho uns seis “perto”).

Há pessoas que vivem para os esquemas dos cartões de crédito que dão milhas aéreas. Em Portugal sempre me pareceu que a oferta não era muita, mas vale a pena pesquisar.

O Skyscanner costuma ser o meu “go-to para encontrar os melhores preços, mas também há por aí muita gente que prefere o Momondo. Uma ferramenta que adoro usar é pôr no destino “everywhere” e simplesmente recebes uma lista dos voos mais baratos a partir do teu destino e nas tuas datas. Muito útil para aquelas escapadelas de fim-de-semana pré-covid.

Tem sempre MUITA atenção ao processo de compra de voos, especialmente em companhias lowcost, porque estão sempre a acrescentar coisas como bagagem, comida, seguro… tens que rever todos os pontos e mudar tudo para “No, thanks” de forma a voltares ao preço com que começaste.

Hoje em dia as lowcost só aceitam uma pequena mochila como bagagem de mão. Não sejas apanhado nesse esquema e verifica antes.


Sexto Passo: Trata das burocracias

Quem está habituado/a ao belo do espaço Schengen pouco se preocupa com burocracia, mas para viajar para fora da Europa precisas de um passaporte e para alguns países de visto também.

Fazer um passaporte custa 65€ (sim, é caro!) e aconselho-te a marcares online o dia, hora e sítio onde o vais fazer evitando as típicas filas de horas. O processo é muito simples, basta ires a este site e pesquisares os sítios pela data e concelho. O passaporte normal demora uma semana a estar pronto.

O passaporte português só dura cinco anos. Para qualquer sítio que vás certifica-te que o teu passaporte tem mais de seis meses de validade. 

Alguns vistos podem demorar semanas até serem processados e envolvem visitas à embaixada. Por isso não te esqueças desta parte! Consulta o Portal das Comunidades Portuguesas para mais informação sobre o teu destino. 

Também convém ter em consideração que teres o carimbo de um determinado país pode condicionar a tua entrada noutros. Exemplo: um carimbo de Israel impossibilita a entrada em vários países do Médio Oriente. Isto pode ser contornado nos aeroportos (o carimbo fica num papel), mas se entrares no país por terra não.

Sétimo Passo: Marca o alojamento, ou não

Mais um factor dependente do teu estilo de viagem e destino. Viajar na Europa no Verão é sinónimo de marcar alojamento com a maior antecedência possível. É época alta, os preços e a procura sobem e a oferta esgota. Contudo, em lugares menos populares ou onde tudo pode ser alojamento turístico não há muito risco em deixar as marcações para a última hora. 

Na altura de procurar alojamento convém verificares se a localização é central, perto de transportes públicos e num lugar seguro. Quando fiz um InterRail, escolhi sempre alojamentos que não ficassem a mais de meia hora a pé da estação e que estivessem perto do centro da cidade para evitar pagar transportes. 

Os melhores sites para procurar alojamento são sem dúvida o Booking, AirBnb e Hostelworld. 

Podes encontrar outras opções de alojamento barato neste post.


Oitavo Passo: Consulta do viajante e seguro de viagem

Esta consulta pode fazer-nos pensar “então se calhar é melhor não ir de viagem…” mas é indispensável. Entre malária, encefalite japonesa, raiva, medicamentos para a diarreia e conselhos úteis que te podem salvar a vida esta consulta é imprescindível para qualquer pessoa que viaje para lugares onde as condições de saneamento básico ficam um bocadinho aquém das dos países ditos “desenvolvidos”. 

Prepara-te para desembolsar uma boa maquia para as vacinas e para construíres a tua farmácia ambulante. 

Podes marcar a consulta do viajante em diversos pontos do país através do Sistema Nacional de Saúde. Convém fazê-lo um ou dois meses antes da viagem, porque há vacinas que têm várias doses e que precisam de ser tomadas com intervalos de tempo.

Encontrar o seguro certo

Não é fácil dispensarmos dinheiro para uma coisa que não sabemos se vamos utilizar. Um seguro de viagem é particularmente recomendável se viajares para fora da Europa. O primeiro seguro de saúde que fiz foi quando viajei para os Estados Unidos, já todos sabemos que não se deve brincar com aquela gente em termos preços praticados pelos hospitais! 

O Covid veio normalizar os seguros de viagem e nos últimos anos têm aparecido mais seguradoras que cobrem “backpackers”, pessoas que viajam durante muito tempo. Se pesquisares blogues internacionais a World Nomads é muitas vezes referidas, mas sei que a IATI também tem uma boa reputação. Podes preencher um formulário online e receber imediatamente o orçamento.

Nono Passo: Faz as malas

Agora sim, começam as dores de cabeça e potencialmente as dores de costas. Preparar uma mochila para meses de viagem com climas dos 40º graus até aos 5º graus negativos, para Inverno e Verão, praia, trekking e floresta tropical não é fácil, mas é possível. Podes ler neste post tudo o que levei na minha mochila para uma viagem de seis meses com estas características, mas por enquanto ficam aqui umas dicas. 

  • Vais-te arrepender de levar uma mochila muito pesada. Eu não posso com mais de 6/7 quilos.
  • A regra número um de um viajante deve ser “leva metade do que estás a pensar na tua mochila e o dobro na tua carteira”.
  • Esquece tudo o que seja produtos de beleza: secador, maquilhagem, acessórios, produtos para o cabelo, cremes… 100ml de hidratante é o máximo permitido! 😉
  • Distribui o peso da forma certa: os itens mais pesados devem ficar no topo.
  • Leva uma mochila pequena e confortável para andares no dia-a-dia.
  • Faz cópia dos teus documentos e guarda-os em vários sítios diferentes, incluindo na cloud
  • Arranja “packing cubes” – saquinhos individuais – para organizares os teus pertences. Eu dividi os meus por: Inverno, Verão, Higiene, Farmácia e Tecnologia. Assim é mais fácil do que teres que revirar a tua mala toda só para encontrares um top.
  • Não leves sacos de plástico para a roupa suja ou para fazeres as tuas divisões. Fazem imenso barulho quando te estás a tentar despachar para apanhar um comboio e a são 5 da manhã num dormitório com mais 10 pessoas. Sacos de pano servem para tudo! 
  • Não leves coisas para todas as situações que “podem acontecer”. Se acontecerem no sítio onde estiveres provavelmente existem lojas 😉

Décimo Passo:  “Não te estás a esquecer de nada?”

A pergunta que o meu pai me faz cada vez que me leva ao aeroporto e que eu levo comigo para todas as viagens. A verdade é que tirando o passaporte, cartões de débito/crédito e telemóvel há pouca coisa que não seja substituível. 

O último conselho que queria dar neste post é sobre a melhor forma de lidar com dinheiro em viagem. Como as taxas de levantamento costumam ser exorbitantes, o melhor será levar uma boa quantia em euros, espalhada por vários sítios, e trocar no centro da cidade já que no aeroporto o cambio nunca é grande coisa. Há países em que o cambio no “mercado negro” pode ser a diferença entre uma viagem cara e barata. O melhor é sempre perguntar!

Não te esqueças de contactar o teu banco e de os informares dos teus planos para que não te congelem a conta quando virem dinheiro a ser levantado em lugares “esquisitos”. 

Tenta ter também mais do que um cartão porque se uma máquina te comer um deles não ficas tão desamparado/a e nem todos os sítios aceitam vários tipos de cartões.

O melhor cartão de débito que conheço para viajar é sem dúvida o Revolut. As taxas são baixas e as comissões não existentes até um certo valor. Podes descobrir mais sobre este cartão neste post. Se soubesse disto há uns anos tinha poupado muito dinheiro! 

Por fim, há países que onde as caixas de multibanco são discriminadoras e não aceitam Mastercard (por exemplo). Agora que é mais fácil arranjar cartões, tenta levar um Visa (não electron) e um Mastercard pelo menos. Estes conselhos não se aplicam à Europa. 


Espero que este post te ajude a planear das tuas viagens, boa sorte!

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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