Passados cinco dias a levar com pó e a andar num jipe que muitas vezes se assemelhava a uma centrifugadora, estávamos com vontade de pouco ou nada fazer nos dias seguintes. Vai daí, apanhámos um micro avião de Arusha e voamos em direcção à ilha de Zanzibar.
Co-piloto e o caso da mala fugidia
Chegados ao “aeroporto” de Arusha, reparámos que aquele não era um aeroporto típico. O check-in, feito numa bancada de madeira, não tinha qualquer computorização. Havia uma lista de passageiros impressa, qual chamada feita na escola, e os bilhetes eram escritos à mão. A balança para pesar as malas parecia saída do Mercado de Alvalade e a sala de espera era ao ar livre.
Ao embarcarmos para o “avião” chamaram-me. Queriam meter-me no lugar do co-piloto. Sim, eu que tenho medo de aviões.
Lá fui. Começou bem, porque só demorei cerca de meia hora a perceber como se apertava aquele cinto. Depois chegou o piloto oficial. Tinha estilo, mas estava mais preocupada em saber se sabia manejar a maquineta. Ele disse que sim.
A viagem foi surpreendentemente divertida e calma. Ao que parece, depois da descolagem, aquilo faz tudo sozinho! Ele bebia descontraidamente o seu café, enquanto preenchia uns relatórios quaisquer e ouvia música. “This is my life: sun, sky and coffee”.
Uma hora depois, éramos os melhores amigos: para além de já saber a vida toda do moço, também consegui que se desviasse ligeiramente da rota para evitar potencial turbulência. Tenho que ir mais vezes no cockpit.
Assim que aterramos a minha tia pergunta-me “onde está a tua mala cor-de-rosa?”. Meio confusa, lembrei-me que ao embarcar ma tinham tirado porque não a podia carregar naquele lugar. Concluímos que devia ter ido para o porão, juntamente com as outras. Só que não.
Depois de passarmos o controlo de passaporte (que por milagre tinha ficado comigo e não na mochila) descobrimos que a mochila tinha ficado abordo e que estava toda feliz já em viagem para Dar es Salam. Pequeno inconveniente? Era onde tinha o telemóvel, carteira e antibióticos que andava a tomar.
As boas notícias? Só íamos ter que esperar hora e meia pelo seu regresso. Quem não teve tanta sorte foram as donas das outras duas ou três malas que nem chegaram a embarcar. Teriam que esperar pelo dia seguinte. Num voo de 11, quatro malas perdidas não é uma má média….
O nosso herói do dia foi mesmo o nosso taxista que aceitou esperar estoicamente pelo regresso da mala antes de nos levar até ao hostel.
E agora vamos ao que interessa:
Paje e Jambiani: ficamos por aqui?
Quando a Terra criou Zanzibar, parece que não se esqueceu de nenhum dos ingredientes da lista “como fazer um paraíso”. Uma colher de areia branca, um balde de água QUENTE, uma pincelada dos mais belos tons de azul, e uma pitada de gente simpática e sorridente. E ainda polvilhou tudo com lulas que resultam nuns calamares deliciosos.
Não posso contar muito sobre as mil e uma actividades que podes fazer nesta ilha, mas posso dizer-te que é um lugar fabuloso para não fazer nada. É, claro, um lugar ao qual planeio voltar porque sei que tem bom mergulho, uma história riquíssima no que toca ao comércio de especiarias e muitas outras praias e ilhas para explorar.
Contudo, a nós bastou-nos um biquíni, um livro e umas camas de rede e não podíamos ter sido mais felizes.
Nas raras vezes em que não estávamos em modo bacalhau demolhado na água, a bem mais de 30 graus, nem estendidos a passar pelas brasas, passeávamos pelas magníficas praias de Paje.
A caminhada de Paje até Jambiani é absolutamente maravilhosa. As praias de Zanzibar têm marés extramente “grandes”: ou há muita água, ou não há água nenhuma! Por isso, mais ou menos a cada vinte minutos, a paisagem vai mudando radicalmente, incluindo os mil e um tons de azul do mar.
Ao mesmo tempo, muitas mulheres trabalham na apanha das algas da praia, para quê não sei bem. Os homens pescam nos seus barcos de madeira tradicionais e os Maasai que viajam desde o interior da Tanzânia até Zanzibar para ganhar o seu pão, andam alegremente atrás dos turistas a tentar vender artesanato ou fotos a saltar.
Uma última sugestão: o Summer Beach Paje. Este hostel, acabadinho de abrir, foi um pouco a nossa casa. Mesmo em cima da praia, com uma comida deliciosa e um staff impecável, é o lugar perfeito para “não faz nada”.
Nós acabámos por ficar no Summer Dream Lodge, dos mesmos donos, porque na altura em que reservamos o Summer Beach ainda nem tinha aberto. São ambos opções low cost brilhantes com um óptimo ambiente. Até para solo travelers.
Dicas rápidas
Transporte: Um táxi do aeroporto até Paje demora cerca de uma hora. O preço através do hostel foi de 30 dólares. Muito mais barato do que os 50 dólares tabelados no aeroporto. Tenta marcar sempre o transporte através do teu alojamento.
3 Comments
lugarajanela
Um bom retrato deste destino, que espero um dia conhecer.
E de pessoa que tem medo de aviões para outra, e que também já viajou no cockpit … tive de sorrir com a parte em que dizes que o avião faz tudo sozinho. Senti exactamente isso, o alívio!
Boas viagens
Inês Amaral
É definitivamente uma ilha maravilhosa! Ainda vou escrever sobre Stone Town que adorei!
Isto de adorar viajar e odiar aviões é uma coisa muito chata. Mas pronto, tem que ser não é? :p
Pingback: