Mal começámos a planear a nossa viagem à Tanzânia e a desenhar o nosso itinerário, pedi logo à nossa agência se podíamos incluir no plano uma visita a uma tribo Maasai. A ideia de tribo sempre me fascinou. Povos que, num mundo completamente globalizado e digitalizado, renunciam a qualquer tipo de tecnologia (excepto telemóveis :p) e vivem exactamente da mesma forma que os seus antepassados.
É claro que este estilo de vida se está a extinguir rapidamente e essa é a principal razão da minha fome de aprender mais sobre as tribos do nosso mundo.
Contudo, no primeiro dia de viagem, começámos a ver Maasai em todo o lado. Fiquei estupefacta, o meu conceito de tribo estava a ser completamente estilhaçado. Provavelmente porque, ao contrário do que pensava, os Maasai são um grupo étnico e não uma tribo. Ah, e são 800 000 só na Tanzânia. Santa ignorância.
Muitos Maasai subsistem do turismo, sabendo que as suas roupas, tradições e artesanato são apetecíveis para os quem os visita. As suas aldeias, outrora tradicionais, transformaram-se um pouco num “Maasai dos Pequenitos” onde os turistas vão para se mascarar de Maasai e tirar fotografias aos saltos.
Foi a partir daí que comecei a temer ter feito a escolha errada quando pedi para “visitar uma aldeia local”. Afinal, só queria aprender mais sobre aquela cultura, mas da forma mais respeitosa possível.
Até ao último dia não sabia o que nos esperava, mas foi quando começámos a conduzir em direcção à fronteira com o Quénia que nasceu uma réstia de esperança: estávamos a ir na direcção oposta ao trilho turístico. Ali, não havia nada nem ninguém.
Depois de uma hora e meia de carro tínhamos chegado. Estávamos em Longido, uma aldeia da Tanzânia. Um lugar lindíssimo onde o Swahilli e o Maa (língua dos Maasai) co-habitam pacificamente.
O nosso guia local chamava-se Samuel. Nos lábios traz um sorriso aberto e acolhedor e nos olhos, muitos anos de histórias e sabedoria. Estava na altura de ingressarmos pelo verdadeiro mundo dos Maasai.
Na meia hora de caminho a pé da aldeia de Longido até à boda dos Maasai, fomos falando um pouco sobre tudo. O Samuel é um defensor do ambiente e está a tentar consciencializar a população da zona a adoptar práticas mais sustentáveis no seu dia-a-dia. Também tinha mais conhecimentos sobre a situação política mundial do que muitos presidentes…
À medida que íamos andando, passámos por várias escolas e crianças que vinham a correr para nós. Estas crianças são mais fofas e menos chatas que as nossas… O Samuel era bastante rígido com os mais novos, desancando qualquer um que se atrevesse a dizer-nos algo como “não tenho dinheiro”. Ele respondia-lhes sempre “estudem e um dia vão ter dinheiro”.
No caminho cruzámo-nos com vários Maasai que o conheciam ou pertenciam à sua família. Alguns dos gestos de respeito entre eles incluem passar as mãos pela cabeça da pessoa mais velha. Neste caso, tanto homens como mulheres, eram quase sempre carecas.
Na cultura Maasai, os homens podem ter várias mulheres e essa foi uma das razões que levou o Samuel a abandonar as suas raízes. Como católico que é, só se podia casar com uma mulher e parecia satisfeito com isso!
Eventualmente chegámos à boda Maasai que íamos visitar naquele dia. E é neste momento que nos perguntamos: como é que isto é possível? À nossa frente tínhamos um conjunto de nove ou dez casas feitas basicamente de terra, barro e estrume com telhados de palha. Parecia um cenário de um filme, mas era cem porcento real.
Fomos recebidos com alguns sorrisos tímidos, mas acolhedores e como ninguém falava inglês o nosso guia passou também a ser intérprete.
Passado pouco tempo fomos convidados a entrar numa das casas e aí caiu-nos mesmo tudo. Depois dos nossos olhos se habituarem ao escuro, começámos a ver algumas formas. No chão, havia um espaço para uma fogueira, dois banquinhos de plástico e um balde grande virado ao contrário que também servia de banco. Havia também uma espécie de divisões.
Num lado era o “quarto das crianças” onde se encontrava uma espaçosa “cama”. Por cama entenda-se um bocado de couro com pó, em cima do chão. Sim, isto era a cama. Na outra “divisão” havia uma cama mais estreita para a dona da casa. Sentámo-nos na cama e nos bancos, com a lanterna dos telemóveis ligada para vermos melhor e tínhamos agora direito a fazer perguntas.
Ficámos a saber que na cultura Maasai são as mulheres que constroem as suas casa. Os homens não têm casa e vão dormindo nas casas das suas mulheres. Quando uma mulher tem um filho, a criança passa a ser da aldeia e não da mãe. Criam-na em comunidade e é por isso que há sempre um espaço para elas.
Esta tribo que visitámos, recebe algumas visitas de turistas e é a eles que vendem o seu artesanato, mas em geral, os Maasai vivem do seu gado. Ao sairmos da casa, reparámos que, numa divisão que nos tinha escapado completamente quando entrámos, havia umas cabrinhas lá dentro. Pelos vistos, também fazem parte da família.
Provavelmente, muito ficou por dizer e aprender, mas acho que estávamos tão fascinados só com o facto de estarmos a testemunhar a vida naquele lugar perdido no tempo que nem conseguimos pensar em mais perguntas.
No fim, as mulheres da tribo prepararam uma demonstração do seu artesanato para vender e ainda bem porque o artesanato deles é lindo! Comprei um colar muito colorido de missangas que nunca vou usar, mas que faz uma grande figura na minha sala!
Infelizmente este foi o nosso último dia de viagem e a volta foi directa para o aeroporto. A Tanzânia é sem dúvida um país magnífico, com uma cultura muito rica e paisagens de cortar a respiração. Um lugar que merece certamente várias visitas, tantas quanto o tempo (e o dinheiro!) permitir.
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