Cazaquistão

Charyn Canyon: o sul do Cazaquistão numa corrida contra o tempo (1/2)

O Cazaquistão nunca fez parto do plano original de viagem, inicialmente o nosso destino era só um: o Quirguistão. Em duas semanas, parecia impossível enfrentar também o nono maior país do mundo, mas os preços dos voos para Almaty eram consideravelmente mais baratos do que para Bishkek – viemos a descobrir que é por esta razão que a maioria das pessoas acaba por visitar o sul do Cazaquistão – e decidimos que mal por mal íamos dedicar dois dias a explorar o melhor da zona.

Depois de muito ler, percebi que para viajar de forma independente iriamos precisar de muito mais tempo do que o que tínhamos e que juntarmo-nos a uma tour através do hostel onde íamos ficar parecia ser a melhor opção. Como tudo na Ásia Central, marcámos a tour no dia antes o que nos ficou bem mais em conta do que tínhamos antecipado, já que íamos viajar com mais 9 pessoas. O desfiladeiro e lagos mais bonitos do Cazaquistão estavam à nossa espera.

Charyn Canyon e uma noite entre 10 tipos de papel de parede diferentes

As maravilhas de ter de acordar às 6:30 da manhã depois de mais de um dia sem dormir… Quem é que diz que as férias são para descansar?!

Ainda meio zonzos, entrámos numa carrinha onde já se encontravam um par de holandesas, um par de chineses e um par de japoneses. Rapidamente se juntaram mais três russos e a grupeta estava completa. Ainda nem eram 9 da manhã e os russos decidiram comprar cerveja para toda a gente, não compreendendo o conceito de ser “demasiado cedo para beber e comer Pringles”. Não me esforcei para explicar a terceira vez.

Quando chegámos ao desfiladeiro já o sol ia bem alto, prometendo torturar-nos a cada passo da nossa caminhada. Ainda por cima o nosso guia, entusiasmado por ter um grupo de jovens, achou por bem pôr-se a andar para cima e para baixo em trilhos que não lembram ao diabo.

Foi quando já tínhamos mais água a ensopar a roupa do que dentro do corpo que tivemos uma visão que inicialmente pensámos ser um milagre: havia água! E havia pessoas dentro dela! Agora tínhamos uma motivação extra para descer aquele caminho vertiginoso de gravilha.

Assim que nos vimos em chão firme, corremos para a água como se nunca tivéssemos visto um rio na vida e os pensamentos homicidas para com o nosso guia abandonaram-nos.

Bem mais felizes da vida, tínhamos pela frente mais uma tarefa dúbia: contactar pela primeira vez com a cozinha do Cazaquistão. Como diz o guia do Lonely Planet, ninguém vai à Ásia Central pela comida e, temendo o pior, em Almaty, ficámo-nos por restaurantes western. Agora, tínhamos um dos pratos (leia-se Tupperware) favoritos da região à nossa frente: Lagman. Uma espécie de noodles com vegetais, carne e uma ou outra especiaria. Aceitável!

O que já não foi tão aceitável foi termos que sair da sombra e enfrentar a caminhada de volta com 40 graus em cima. Quando finalmente chegámos ao topo, eu já não era bem eu, mas sim uma versão escaldada e empoeirada. Sexy.

Mas o desfiladeiro ainda não nos tinha mostrado tudo o que tinha para dar e para a despedida fomos até ao miradouro mais bonito que justifica perfeitamente o porquê do Charyn Canyon ser também conhecido como o “Grand Canyon do Cazaquistão”.

Saty e as profundezas do Cazaquistão 

De novo na carrinha, adormecemos todos quase de imediato e, só quando chegámos à aldeia onde se encontrava a nossa homestay, voltámos à vida. Para nossa surpresa e deleite tínhamos wi-fi, água quente e electricidade. E camas com colchões!

À nossa volta, galinhas, cavalos e vacas andavam de um lado para o outro livremente. Dentro da casa fomos surpreendidos com um estilo entre o “casa da avó míope” e o “thriller psicológico”, porque só por maldade é que se mete tanto papel de parede e padrões diferentes numa só divisão.

É a festa do padrão! (e um potencial ataque de epilepsia)

O jantar também acabou por ser melhor do que estávamos à espera e tivemos a oportunidade de provar os primeiros Manti da viagem: dumplings recheados com carne, cenoura e abóbora. A mesa do pequeno-almoço não difere muito da das outras refeições já que compotas, bolachas ou pão frito constam sempre no menu.

A noite só acabou depois de deixarmos os russos verterem algum álcool nos nossos copos. Não que nos pudéssemos dar ao luxo de beber muito já que no dia seguinte o despertador ia tocar às 5 da manhã! Já disse que isto não foram bem férias não já?

PS: a minha máquina decidiu apagar todas as fotografias dos dois primeiros dias, por isso as imagens que vês aqui foram simpaticamente cedidas por amigos

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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