Cazaquistão

Lagos Kolsai e Kaindy: o sul do Cazaquistão numa corrida contra o tempo (2/2)

No nosso segundo dia de exploração tínhamos em mãos uma tarefa epopeica: ver três lagos num dia e ainda voltar a Almaty. E se as epopeias costumavam começar em barcos, a nossa começou num jipe dos tempos soviéticos que ameaçava desfazer-se todo a qualquer momento.

A nossa real carruagem
As árvores afundadas de Kaindy

Meia hora de centrifugadora soviética depois e chegámos ao início da pequena caminhada que nos ia levar até ao lago mais cobiçado do Cazaquistão. Para quem não sabe, o Lago de Kaindy é conhecido pelas suas “árvores afundadas”. O lago formou-se por causa de um deslizamento de terras desencadeado por um forte tremor de terra em 1911. Onde antes passava um rio, nasceu uma barragem natural e com ela uma floresta afundada.

Não bastando ter água límpida e uma cor muito garrida quando bate o sol (que nós não chegámos a ver), o que torna este lago tão especial são os troncos, despidos e esbranquiçados, que se erguem da água como criaturas místicas.

Por termos começado tão cedo não se avistava vivalma e conseguimos ser os primeiros a chegar ao lago. Aconselho levares ou umas botas de caminhada impermeáveis ou umas chinelas para andares mesmo até à beira do lago, especialmente se não tiveres um guia fofinho para te carregar como o meu!

Apesar de termos ficado deslumbrados com este lago ainda tínhamos mais dois na calha e nenhum tempo a perder.

Lagos Kolsai: Sobe, sobe turista sobe

Na noite anterior o nosso guia tinha posto uma questão em cima da mesa “quem quer fazer a caminhada de amanhã, 16 km ida e volta, a cavalo?”. Já meio moídos por causa do Charyn Canyon, metade do grupo alinhou na ideia. Claro que na Ásia Central nada corre como o esperado e, quando chegámos ao primeiro Lago Kolsai, havia UM cavalo disponível. Estávamos destinados a ter que dar à perna.

Roubaram-nos os cavalos…

Apesar do primeiro lago não ser nada de se deitar fora, até porque dá ares de Suíça, é pelo segundo lago que toda a gente se desloca até Kolsai. O único inconveniente é que para lá chegar temos que andar cerca de 2.5 a 3 horas a bom passo.

Vendo o nosso lento progresso, e como tínhamos todos os minutos contados, o nosso guia decidiu fazer-nos um ultimato: “ou andam mais rápido, ou não vamos chegar ao lago”. Claramente ninguém lhe tinha dito que os turistas têm sentimentos. Mais tarde, viemos a perceber que na Ásia Central não há papas na língua e que o nosso físico não transmitia nem resiliência nem agilidade a ninguém.

O que é certo é que o ultimato surtiu efeito e, apesar de 4 desistências, a maioria do grupo conquistou o segundo Lago Kolsai (toma lá guia céptico!). O lago é absolutamente maravilhoso e perfeito para passar umas horas a descansar, fazer um pique-nique e, se te sentires com muita pujança, tomar banho. Nós tivemos que fazer isto tudo em cerca de 30 minutos!

Depois de nos enchermos de ovos e batata cozida (almoço gourmet) e de tomarmos o banho mais rápido e gelado da história, estávamos suficientemente rejuvenescidos para enfrentar a descida que nos deixaria de joelhos a tremer.

Em retrospectiva a caminhada não é assim tão difícil e tem a vantagem de ser maioritariamente por dentro da floresta, mas ter um dia inteiro para ver ambos os lagos e fazer as pausas necessárias seria perfeito.

Com um sentimento de tarefa cumprida, fizemos a nossa dança da vitória, tomámos um banho de garrafa só para tirar a aquela primeira camada de pó e suor e voltámos à nossa querida van que nos ia levar de volta a Almaty.

Paragem final antes de Almaty

Estafados, fizemos uma sesta colectiva até nos lembrarmos que tínhamos fome. Deu-se então um banquete de restos que merecia ser filmado. Como dizia o meu amigo, enquanto nos ríamos que nem uns perdidos, “aqui estamos nós, no fim do Cazaquistão, enfiados num mini-bus aos saltos, todos sujos a comer ovos cozidos, salsichas e pão seco”. Acho que é uma definição legítima de viajar!

Dicas rápidas

Tour ou viagem independente: Se tiveres tempo limitado como nós, juntares-te a uma tour é sem dúvida uma óptima opção. Esta região é tão pouco visitada que a infra-estrutura turística é quase nula e viajar de forma independente envolve marshrutkas, táxis e potencialmente andar à boleia. Nós pagámos cerca de 120€ com transportes + guia + todas as refeições + entrada nos parques e alojamento.

Lagos Kolsai: Para além dos dois lagos que falei aqui, existe um terceiro lago, ainda mais inacessível que o segundo. É praticamente impossível ir e voltar num só dia e como a zona é muito perto da fronteira com o Quirguistão – e ocupada por militares – é necessário uma permissão para lá ir.

Passaporte: Leva sempre o passaporte contigo porque pode haver checkpoints militares.

Fronteira com o Quirguistão: o nosso plano inicial incluía ir directamente desta zona para o Quirguistão (para Karakol). É possível fazê-lo de táxi ou, pelo que percebi, com uma combinação de boleia e transportes públicos. É uma rota que te permite poupar tempo, mas também é mais incerto do que fazer o típico trajecto Almaty – Bishkek.

Clima: Nós fomos no pico do verão e como tal apanhámos bastante calor durante o dia. Mas esta zona é tão alta que durante meio ano é provável que esteja coberta de neve. Tirando o Canyon, a melhor altura para visitar é sem dúvida o Verão.

Alojamento em Almaty: O nosso primeiro alojamento em Almaty foi o Almaty Backpackers. Sem dúvida um hostel com uma óptima atmosfera e o lugar perfeito para conhecer outros viajantes. Único problema? Só tem duas casas de banho para muita gente! Outra alternativa é o Soul Hostel, onde ficámos mais tarde. Apesar do nome, o hostel de alma tem pouco mas tem mais casas de banho e duches e é mais central também. A escolha depende das prioridades.

PS: a minha máquina decidiu apagar todas as fotografias dos dois primeiros dias, por isso as imagens que vês aqui foram simpaticamente cedidas por amigos

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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