Uzbequistão

Bukhara: nós vs. o pôr-do-sol

De todas as cidades que tínhamos escolhido visitar no Uzbequistão, Bukhara era aquela onde íamos passar menos tempo; os horários dos comboios assim o ditaram. Contudo, mesmo sabendo que ia ser uma correria, não podíamos deixar a cidade mais sagrada da Ásia Central para trás.

Às três da tarde chegámos à estação de comboio de Bukhara para mais uma recepção calorosa por parte de 20 taxistas, que desta vez desapontámos por já termos marcado transporte com a guesthouse. A contagem decrescente das cinco horas de sol que nos restavam tinha oficialmente começado.

Por muito que quiséssemos começar a correr quilómetros os nossos estômagos arrastaram-nos para a tasca recomendada pelo dono da nossa guesthouse. Por obra e graça do espírito santo tinha bifinhos de frango com arroz e batatas fritas e este prato vezes três deu um total de 4.5€. Com a energia que este preço nos deu foi partida, largada, fugida!

4 horas de sol: O bazar das cúpulas (trading domes)

Este bazar é uma espécie de portal do tempo que te transporta da Bukhara moderna com carros e hotéis para uma Bukhara medieval feita de terracota. O Uzbequistão tem um artesanato e têxteis riquíssimos que só resisti a trazer para casa por falta de espaço e dinheiro. Ao menos, namorar barraquinhas é grátis 😉

Já oficialmente dentro do centro histórico foi difícil sabermos para onde havíamos de nos virar. As antigas madrassas suplicavam-nos para que as fotografássemos e os azulejos maravilhosamente trabalhados faziam-nos esquecer os nossos objectivos de tempo.

3 horas de sol: Po-i-Kalyan complex: Kalyan Mosque

Entretanto chegámos ao arrebatador complexo Po-i-Kalyan que é um desafio para todos os fotógrafos: como encaixar numa foto um minarete e duas mesquitas gigantes? É uma pergunta à qual claramente não consegui responder.

Uma das melhores coisas de visitar mesquitas no Uzbequistão é não termos que nos enrolar todas em véus e trapos. Perninhas e ombrinhos cobertos, mas fora isso são muito liberais. Já lá dentro, destaca-se a praça principal, capaz de acolher 12000 fiéis e as intermináveis galerias com centenas de pilares e abóbadas.

2 horas de sol: Ark of Bukhara

Se há coisa que os Uzbeques ainda não aprenderam a fazer foi promover os seus monumentos como deve ser. O exterior do Ark of Bukhara é digno de um filme do Indiana Jones, uma estrutura massiva do século V que se mantém em pé até aos dias de hoje. Contudo, não fazíamos ideia que lá dentro se escondiam muitos outros tesouros.

À entrada do Arco, debatemo-nos se devíamos pagar para entrar ou não. As imagens que representavam o que podíamos ver no interior deixavam muito a desejar e parecia haver pouco mais do que museus ranhosos por descobrir. Mas não, dentro das muralhas há uma mini aldeia que já foi um centro administrativo e corte onde chegaram as viver 3000 pessoas.

O Arco fez-me lembrar aquelas aldeias portuguesas tipo Marvão ou Monsaraz <3

Ps: Os museus ranhosos também estavam lá, mas são a parte menos importante.

45 minutos de sol: Bolo Haouz Mosque

Cientes do pouco tempo que tínhamos até anoitecer atravessámos rapidamente a estrada que nos levava até a mais uma mesquita com uma arquitectura única, desta vez uma com 40 pilares de madeira todos trabalhados. Uma curta paragem antes do grande final.

30 minutos de sol: Kalyan Minaret

Se há um lugar para admirar o pôr-do-sol em Bukhara esse lugar é o Kalyan Minaret onde regressámos para a hora dourada. Quando foi construído em 1127, era provavelmente o edifício mais alto da Ásia Central e sobreviveu a tudo, mesmo ao Genghis Khan, que ficou tão estupefacto quando o viu que ordenou às suas tropas que o poupassem enquanto saqueava a cidade.

Ainda bem que assim foi porque Bukhara não seria a mesma sem ele.

10 minutos de luz: Chor Minor

Só nos restava um item na lista: a mesquita Chor Minor que ficava do outro lado da cidade, mesmo ao pé do nosso hostel. Acelerando o passo percorremos as ruas de uma Bukhara anónima, escondida do turista pela sua pobreza.

Como o nosso aspecto não enganava ninguém, depressa fomos encaminhados na direcção certa e alcançámos o nosso objectivo: tínhamos corrido os pontos mais famosos de Bukhara antes do anoitecer.

Posso descrever esta mesquita como “uma coisinha fofa” sem desrespeitar ninguém? É que é mesmo muito querida! E parece que os seus quatro minaretes – todos diferentes – representam um entendimento das quatro religiões do mundo.

O nosso dia só podia acabar como começou: a comer claro! Desta vez optámos por uma via mais tradicional e o jantar foi Plov (um prato típico de arroz com cenoura, cebola e especiarias) com carne de cavalo por cima! Estava óptimo mas um prato dava quase para três pessoas e tivemos que fazer aquele número do “pode pôr numa caixinha para levar?”.

O pior foi mesmo ir para a cama sabendo que às cinco da manhã tínhamos que estar no táxi para voltar à estação. Há vidas difíceis…

Dicas rápidas

Alojamento: Ficámos no Mekhtar Accommodation e mais uma vez foi um luxo. Para além de camas, tecto, paredes e ar condicionado, desta vez tínhamos uma casa de banho no nosso quarto. Im-pe-cá-vel!

Os donos também foram muito prestáveis e marcaram sempre o nosso transporte e deram-nos óptimos conselhos apesar de não termos tido tempo de seguir quase nenhum.

Dinheiro e multibancos: Os multibancos de Bukhara deram-nos muita luta e só conseguimos levantar dentro de um hotel. 99% das máquinas só aceita Visa e muitas não têm dinheiro suficiente (+100€).

Polícia Turística: Se tiveres alguma dúvida podes sempre dirigir-te à polícia turística que está presente em todas as cidades. Eles são muito simpáticos e falam inglês bastante bem.

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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