Food for Thought

2019 revisto e uma década de mudanças

Pode parecer ridículo, mas só ao ler os jornais é que percebi que estamos prestes a entrar numa nova década e, ao que parece, temos que usar estes últimos dias do ano para reflectir nos acontecimentos dos últimos dez.

Sendo que eu mal me lembro de todos os sítios onde fui este ano, este exercício pode tornar-se mais complicado do que antecipei mais aqui vai:

2010

Há 10 anos estava a acabar o secundário e não sabia muito bem o que fazer da vida – esta parte ainda se confirma, mas agora com um sentimento de aceitação e não de pânico.

A crise estava instalada e não havia nada mais importante do que tirar um curso “com saída”. A Geração à Rasca éramos nós.

Este ano também marca o início de uma década de viagens e mudanças. Foi em 2010, aos 16 anos, que fiz a minha primeira viagem com amigos: um Intrarail que deixou todos os pais preocupadíssimos. Sabiam lá eles o que ainda estava para vir…

Lugares visitados (que me lembro): Açores, Norte e Centro de Portugal

2011

Em 2011 quiseram os Exames Nacionais que eu entrasse efectivamente para um curso com saída: Gestão de Marketing.

Rapidamente nos informaram que um curso estava longe de ser o suficiente, que tínhamos de ter um CV mais recheado que um perú de Natal. Durante os próximos três anos deviríamos conduzir a nossa vida de forma a tornar o nosso currículo o mais apetitoso possível para termos uma hipótese naquele estágio não remunerado em Linda-a-Velha.

O último ano do secundário também traz consigo a viagem que toda a gente faz: a viagem de finalistas. Sendo que o meu grupo era sofisticado de mais para destinos como Andorra ou Benidorm, fomos parar a Barcelona onde consumimos muito mais cultura do que álcool.

Lugares visitados (que me lembro): Barcelona, Bélgica e Holanda

2012

Com os incentivos do governo português à emigração, por que não começar a explorar melhor a Europa? 2012 foi o ano em que o rastilho das viagens pegou fogo e a partir daí já não havia volta a dar. Um Interrail de um mês pela Europa Central fez-me perceber que aquela seria a primeira de muitas viagens, de preferência longas e baratas.

eslovenia interrail europa 1

Países visitados: Croácia, Itália, Eslovénia, Áustria, Hungria, Polónia, República Chega, Alemanha, França

2013

O despertar do desejo de viajar nos anos anteriores fez de 2013 um ano essencial nesta década de mudanças. No Verão, decidi fazer um estágio de voluntariado em Antália (Turquia) através da AIESEC e aí sim, percebi porque é que se aprende mais em seis semanas de viagem do que num ano na escola. Vivi e convivi com pessoas de realidades completamente diferentes da minha pela primeira vez e desmistifiquei alguns preconceitos, que nem sabia que tinha, acerca de pessoas de países muçulmanos.

antália turquia antalya

Voltada do estágio, quase nem tive tempo de ter saudades porque em menos de nada estava enfiada noutro avião com destino a Paris que iria ser a minha casa durante um semestre. Com o Erasmus veio um gostinho a liberdade que nunca mais se foi embora! 

paris dicas viajar

Países visitados: Escócia, Inglaterra, Turquia, Alemanha, França, Espanha, Bélgica

2014

No ano em que acabei a licenciatura já não conseguia pensar em mais nada para além do meu próximo destino. Nas férias da Páscoa – que saudades dos dias quase ilimitados de férias – fui com quatro Erasmus até Marrocos. Dez dias espontâneos e pouco planeados que me mostraram uma forma diferente de viajar.

marrocos viagem deserto

Terminada a faculdade, impunha-se a questão que já me assombrava desde 2010: o que fazer da vida? Depois de um típico estágio não remunerado no Verão não havia nada que me prendesse a Portugal, mas havia um namorado em Istambul. Estava na hora de meter a mochila às costas e fazer a primeira grande mudança.

istambul por do sol

Países visitados: Marrocos, Turquia, Grécia, França

2015

Viver na Turquia foi, até hoje, a experiência mais intensa por que passei. A língua, a cultura, o trânsito, as pessoas… tudo é diferente. E se essa diferença e intensidade me fizeram crescer, também me fizeram perceber que o meu futuro não era ali.

capadocia turquia cappadocia

Em 2015 fui até à Roménia para descobrir mais um país delicioso que é ignorado pela maioria dos viajantes, corri a costa sul e oeste da Turquia e, sabendo que ia começar a trabalhar novamente em Setembro, ainda dei um pulinho à Irlanda porque sabia lá eu quando é que ia voltar a ter férias!

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Países visitados: Roménia, Turquia, Irlanda

2016

Comparado com os anos anteriores e posteriores, 2016 foi assim uma coisinha sem sal. Passei o ano a trabalhar numa agência de comunicação e a viver como uma verdadeira portuguesa: em casas dos pais, a ganhar pouco, quase sem férias e a trabalhar de mais.  Na minha cabeça formava-se o plano maquiavélico de me despedir e ir dar a volta a meio mundo durante seis meses.

Nova Iorque foi escolhida como O destino de férias do ano e durante dez dias vivi aquela cidade ao máximo: com couchsurfing, aniversário no topo de arranha céus, passeios no Central Park e a consumir mais calorias que um corpo humano consegue aguentar.

nova iorque dicas

Lugares visitados: Tenerife, Viena (em trabalho), Nova Iorque, Lyon

2017

Tinha chegado o melhor ano da década. No fim de Fevereiro lancei-me para o outro lado do mundo com a promessa de só voltar seis meses depois. Foi uma viagem extensamente documentada neste blog que me levou ao Sudoeste Asiático, Oceânia e Japão.

coron filipinas ilha palawan

Caminhei por vulcões na Nova Zelândia, mergulhei no Bornéu, dormi em aldeias perdidas no tempo nas Filipinas, limpei gaiolas de patos no Japão e aprendi a surfar no Sri Lanka. Conheci pessoas do mundo inteiro, de todas as idades, profissões e étnias. Fiz amigos para a vida e amigos de cinco minutos. Apanhei inúmeras gastroentrites, ainda tenho marcas das centenas de picadas de mosquitos e engordei uns cinco quilos. Mal posso esperar para o fazer outra vez, desta vez mais devagar.

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2017 foi também um ano de perda, dos meus avós, e um ano de novos começos com um mestrado em Milão.

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Países visitados: Tailândia, Malásia, Singapura, Austrália, Nova Zelândia, Filipinas, Japão, Sri Lanka, Inglaterra, Itália, Alemanha, Suíça

2018

Acabado o mestrado, lá vinha a velha pergunta: o que é que vou fazer da vida agora?! Desta vez sabia que trabalhar em Portugal não era uma opção viável.

Vai daí e começo a candidatar-me para empregos em Londres sendo que também tinha a vantagem de ter um inglês à minha espera. A coisa deu-se mais rápido do que tinha previsto e do nada tinha trabalho, uma casa arrendada, contas para pagar e uma rotina. Era oficialmente adulta!

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Enquanto estive em Itália descobri que este é um país ainda mais mágico do que pensamos. Não tem só cidades turísticas e arte; tem montanhas avassaladoras, lagos estonteantes, aldeias fascinantes e uma personalidade única. É um país que tem tudo e merece ser explorado a pente fino.

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Mas a nível de surpresas, o Irão ganhou o primeiro prémio. Não só pela amabilidade, simpatia e hospitalidade, mas também pela magnífica arquitectura e história.

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O ano acabou com uma semana de voluntariado na ilha de Lesvos, na Grécia, por causa do meu trabalho que se revelou uma autêntica bomba de emoções e onde ficou um pedaço de mim.

Países visitados: Itália, Alemanha, Áustria, Irão, Dinamarca, Inglaterra, Grécia, Espanha

2019

E parece que chegámos ao fim da década. Olhando para o que acabei de escrever tenho a estranha sensação que fiz muita coisa e que 2010 está lá muito ao longe, mas que ao mesmo tempo estes dez anos passaram num ápice e que não faço ideia como serão os próximos dez. Afinal, aos 16 mal podia imaginar onde estaria aos 26, mas acho que a adolescente em mim diria que não me saí nada mal.

Voltando ao presente… 2019 iniciou-se com uma viagem espectacular à Tanzânia com os meus tios. Aí, a Inês de cinco anos que já ouvia as histórias deles em África cumpriu o sonho do seu primeiro safari a sério!

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Uma grande parte do meu ano foi passada em aviões e aeroportos (os dois lugares que mais odeio) tanto por viagens minhas como de trabalho.

Fui a Amesterdão ver Tulipas e ao Líbano que elejo como destino cultural do ano. Fui à Islândia com os meus pais para me relembrar da força da natureza como já não sentia desde a Nova Zelândia. Voltei a Paris para matar saudades.

Fui ao fim do mundo aka Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão para descobrir uma cultura nómada e a fascinante Rota da Seda.

Voltei a Lyon para mais um Festival de Luzes e pela primeira vez fiz uma viagem sem tirar uma única fotografia, sem “postar” uma única vez nas redes sociais. E senti-me tão feliz!

Consegui explorar mais uns cantinhos de Inglaterra e ficar com fome para mais.

Mudei de casa, mudei de namorado, tornei-me quase vegetariana, corri uma meia maratona e estou oficialmente pronta para a próxima década sendo que ainda não sei bem o que vou fazer da vida 😉

Lugares visitados (viagens): Tanzânia & Zanzibar, Amesterdão, Líbano, Islândia, Algarve, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Vila Nova de Milfontes, Monsaraz, Douro & Minho, Lyon, Escócia

Lugares visitados (trabalho): Lisboa, Lesvos, Madrid, Munique, Sicília, Roma, Düsseldorf, Haia, Porto, Bacau (Roménia)

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

2 Comments

  • José Amado

    Uma pequena história de vida porque eu tenho mais de meio século de vida.
    Mas a ” pequena história” só assim a adjetivo não por ser pequena mas por se referir a 10 anos apenas.
    A geração mais nova que se de desengane, porque de rasca, nada tem.
    Se me lembrar que aos 26 anos da minha vida, não conhecia Portugal e África (Angola) só zonas onde procurávamos o inimigo e nada de Natureza encantada, como me posso comparar com a Inês?
    Agora o tempo é, desde haja determinação, uma Mudança Constante, se não for efetiva que seja mental. Há que largar as amarras porque o
    Mundo é maior que a nossa rua.

    • Inês Amaral

      A menção da Geração à Rasca é porque foi o nome que lhe deram na altura :p
      Comparando com gerações anteriores somos a geração dos privilegiados (tirando na parte das rendas 😉 )
      Obrigada pelo comentário <3

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