São Tomé e Príncipe

O centro de São Tomé: quantos segredos guarda a floresta?

São Tomé é perfeitamente competente como destino de praia, mas se nos ficarmos só pelas suas águas transparentes e cocos na espreguiçadeira, corremos o risco de ignorar o que de mais especial esta ilha tem para oferecer: um mundo mágico de cascatas e uma fauna e flora únicas!
É possível que este seja o post mais verde que alguma vez publiquei. Dentro da imersiva floresta de São Tomé, até o céu foi substituído por ramos e folhas que cobiçam a atenção do sol e a catana é imprescindível para abrir caminho. Vamos desbravar o centro de São Tomé?

Nível 1: Cascata de São Nicolau

“Faz parte do pacote” disseram dois rapazes São Tomenses a rir assim que nos viram, a mim e à Catarina, a olhar para o nosso carro que deitava fumo do motor. Caso não saibas, é responsabilidade do cliente verificar se os níveis de água do carro estão dentro dos limites!

Enquanto a Catarina tentava arranjar um carro de substituição, eu lá fui com os rapazes pela floresta até à cascata onde eles vendem artesanato aos poucos turistas que passam por ali.
A Cascata de São Nicolau é muito bonita e de fácil acesso, uma boa carta de apresentação às cascatas de São Tomé!


Nível 2: Cascata dos Túneis

Esta foi a minha caminhada preferida em São Tomé e um dos melhores dias da viagem. Um acumular de surpresas e aventuras!

Para encontrar esta cascata precisei de um guia que me veio buscar numa motinha que parecia pouco capaz de subir uma montanha por uma estrada de pedras e lama. Mas depois de muitos solavancos, lá chegámos inteiros e prontos para começar a caminhada.


De catana em riste, o Gege levou-me pela floresta dentro enquanto me explicava a que pássaro pertencia cada chilrear que ouvíamos. À nossa volta havia plantações de cacau e de café e fui descobrindo os usos que os São Tomenses foram dando às suas plantas endémicas: umas enrolam-se para fazer um copo, outras têm folhas tão grandes que servem de guarda chuva e até há um género de feto que faz tatuagens.


A caminhada não é difícil e é só no fim que faz juz ao nome: há que caminhar por um túnel escuro, cheio de água, para chegar à prometida cascata. Troquei os ténis pelas chinelas e lá fui, meia agachada pelo túnel. Tinha uma lanterna, mas a verdade é que mais vale não usar para não vermos a quantidade de seres rastejantes que circulam impavidamente a poucos centímetros da nossa cara.


Do outro lado está uma cascata vinda do céu.

Saída do túnel, dou por mim rodeada de paredes rochosas, mais verdes que pretas, com o musgo a tomar conta de tudo o que é superfície. Não há como não ficar embasbacado com este pequeno pedaço de magia geológica!


Se estiveres indeciso/a sobre que caminhada fazer em São Tomé, esta seria definitivamente a minha recomendação.

Nível 3: Cascata Vale do Rio (?)

“Você é motoqueiro?” pergunta a mãe da minha amiga Arminda a um rapaz que parou em frente a nós. Desta vez tinha que arranjar o meu próprio transporte até Monte Café e foi tão simples como sair de casa a acenar às dezenas de condutores de motas que por ali passam. Alguns deles são mesmo motoqueiros (um género de taxista, mas com mota em vez de carro) e levam-te onde quiseres por um preço muito simpático.

Saltei para o lugar de trás e em cerca de vinte minutos estávamos no Monte Café, onde um outro guia me esperava para começarmos a caminhada até à Cascata Vale do Rio.

Pequeno à parte: A maioria das pessoas visita o Monte Café pelo seu Museu do Café, onde o preço do bilhete (3€) inclui uma visita à Roça com direito a explicação do processo de produção do café e uma bica.


Ora bem, esta cascata é uma matryoshka de cascatas. O caminho até à primeira, que acho que se chama Vale do Rio, é bastante fácil mas não tão bonito como o da cascata dos túneis – a floresta não é tão densa. Mesmo assim, vão-se vendo pequenas quedas de água até chegarmos à poderosa Vale do Rio. Mas o trilho não acaba aí. A nível de dificuldade, começa é aqui!


Seguiu-se a parte mais complicada de todo o percurso: subir por uma parede de lama!

Não sei bem como completei esta caminhada sem me esbardalhar toda (ainda tive que atravessar um pequeno rio), mas a verdade é que meia hora depois estava a nadar numa dupla cascata cujo nome ninguém sabe bem. Que lugares maravilhosos esconde a floresta de São Tomé!


Este é daqueles trilhos que só posso recomendar a quem tem experiência de caminhada, mas é um lugar com uma energia muito especial que adorei visitar. E eu que estava com algum receio da descida, acabou por ser bem mais fácil que a subida.

Dica extra: se estiveres por estas bandas, existe ainda uma outra cascata (de acesso mais fácil), a cascata de Bombaim. Precisas é de um jipe para lá chegar.

Casa Museu Almada Negreiros
Por fim, fica a sugestão de um pequeno museu. O museu em si é possível que esteja às escuras por falhas de electricidade, mas a paisagem envolvente é linda e há poesia pintada nas paredes! Se tiveres sorte, ainda encontras uma senhora a vender biscoitos caseiros!

Este é o último post sobre a minha viagem a São Tomé, se quiseres ler mais ficam aqui os links para os posts anteriores:

O Norte de São Tomé
O Sul de São Tomé
O Príncipe

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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