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Malásia

Penang: caminhos selvagens, arte urbana e um bocadinho sobre a Síria

Arranquei, às 8 da manhã, de Koh Lanta rumo a Penang. Dos 10 turistas que constituíam aquela mini van, depois da primeira paragem ficámos três e foi aí que começou a nossa aventura.
Na estação de autocarros de Trang fomos metidas (eu, uma alemã e uma holandesa) todas encavalitadas numa das mini vans mais desconfortáveis da história que não estava claramente feita para o tamanho europeu. Valha-nos o ar condicionado. É claro que é nas piores situações (ou mais cómicas) que se formam amizades e foi isso que aconteceu. Depois de mais uma mini van de Hat Yai até Penang e um almoço picante já éramos as melhores amigas!

Ps: custo da viagem – 1000 bht através de uma agência em Koh Lanta.

Um encontro no mínimo estranho
Chegadas a Penang, primeira missão: trocar dinheiro. E é aí que nos deparamos com a pessoa mais estranha que já conheci. Um rapaz aparentemente Canadiano (ou pelo menos foi o que ele disse) chegou ao balcão de câmbio com um ar muito aflito a perguntar onde é que era um determinado hotel. A senhora do balcão não estava minimamente interessada em ajudar, por isso nós dissemos que tínhamos o mapa da cidade no telemóvel e que podíamos ajudar. E foi aí que começou o drama:

Segundo ele, tinha sido roubado nesse mesmo dia (um valor exorbitante de 2000 dólares) e pelo que percebi, foi roubado no autocarro por alguém que o hipnotizou. Sim, isso!
Apesar de muito pouco verosímil, decidimos convidá-lo para ir connosco até ao Starbucks porque precisávamos todos de wifi e duma coisinha doce!

No Starbucks a história só piorou e eu já não sabia para onde havia de me virar. Portanto, nesse mesmo dia a namorada tinha acabado com ele. Como? Estavam os dois a passear na rua, passa um gajo que se vira para a namorada e diz “you are hot” e ela diz “you too” e vão os dois embora juntos.
Claro que eu estava quase a chorar a rir, quem me conhece sabe que eu tenho um grave problema, e começo-me a rir automaticamente da desgraça dos outros. Ele ainda acrescentou que eles namoravam há dois meses mas nunca se tinham beijado, que a tinha conhecido porque tinha salvado a vida dela num acidente qualquer e que tinha perdido muito peso por causa dela (ainda parecia ter uns 100 quilos). Quase caí para o lado quando ele disse que a mãe dele tinha morrido este ano também…
Felizmente a Martina (holandesa) manteve uma postura brilhante durante o tempo todo e ia acenando. Eu já só contava os segundos até o meu host me ir buscar. Ele lá apareceu e eu cheia de medo que ele convidasse o gajo louco para ir lá dormir também, mas não aconteceu.
Deixámo-las lá uma vez que iam apanhar um táxi até ao hostel e prometemos encontrar-nos no dia seguinte (não com o gajo estranho que do nada também se tinha lembrado que já tinha estado naquele sítio um dia com o pai dele).

Monkey Beach

No lado oposto a Georgetown, existe um parque natural com vários trilhos pela “selva” que te levam até a praias solitárias e a lagos bonitos. Os caminhos têm alguns obstáculos mas nada que não se faça. Na minha inocência achei que ia ser coisa para demorar 3 horas incluindo ir, voltar e estar um tempo na praia. Mas demoramos umas cinco! O que quer dizer que estava completamente esfomeada e nem a meio íamos. Pelo caminho vimos lagartos gigantes e macacos. Tomámos banho numa praia deserta e passados 5 minutos de termos saído da água vimos um lagarto a nadar por ali também!!
A Monkey Beach em si é muito bonita e até tem um género de hostel/parque de campismo muito hippie onde podes ficar. Felizmente também fazem umas magníficas sandes de ovo para aqueles que não vêm preparados 😉
De Georgetown até ao parque natural podes apanhar um autocarro ou recorrer ao Grab (o Uber da Ásia) se tiveres mais pessoas para partilhar o valor. Não é mesmo nada caro. Meia hora de caminho devem ser 7€ no máximo. Para chegar à praia em si escolhemos ir e vir a andar (hora e meia para cada lado sem parar) mas também existem barcos a fazer essa ligação.

Entretanto, uma amigo meu que foi a esta praia segundo a minha recomendação teve que andar à luta com um macaco! Por isso, recomendo-te a nunca te aproximares deles nem teres comida à mostra. Os macacos na Ásia não são para brincadeiras.

Pontes de confiança
Praia só para nós!

A caminho

Georgetown

Georgetown é no mínimo adorável!
Uma fusão de religiões, pessoas e culturas, tudo num raio de meia hora. Para além de poderes ver todo o tipo de templos (hindus, budistas, igrejas, mesquitas…) pelas ruas, Georgetown é particularmente conhecida pela sua “comida de rua”. São dezenas de pratos para provar, nas mais diversas bancas. O maior mercado de comida que vi foi durante a noite, relativamente perto da Love Lane, mas é só andares pela cidade um bocadinho que escolhas não vão faltar. Sendo Georgetown a parte mais turística de Penang para backpackers, existem montes de bares com happy hours e até bares com bebidas grátis para mulheres… Prometo que vais ter noites memoráveis!
A outra grande característica de Georgetown é a arte urbana. Por toda a cidade existem pinturas, grafittis e expressões de arte que contrastam perfeitamente com o ambiente mais histórico e que já ganharam muitos prémios internacionais. E para ser ainda mais um museu ao ar livre, quase todas as ruas têm uma espécie de cartoon que explica a história da zona, o que te ajuda a perceber melhor o passado da cidade.

Tenho dois sítios absolutamente fantásticos para comer a recomendar:

Woodlands: é um restaurante indiano e vegetariano delicioso. Uma refeição vai-te custar uns 3 ou 4 euros máximo dos máximos. Se gostas deste tipo de cozinha, este é o sítio para ir.

Chinahouse: este sítio é tudo menos o que eu estou habituada. É todo hipster e nada barato mas tem um sortido de bolos capaz de pôr água na boca dos mais fortes! E a comida também é espectacular. Por isso se te apetecer uma coisa um bocadinho menos asiática ou um bolo de comer e chorar por mais, este é o teu sítio. Recomendo o sponge cake de maracujá e limão!

E por fim, chegámos à Síria:

Refugiados há 6 anos

Escolher um sírio como host na Malásia pode não parecer a decisão mais lógica, mas de experiências passadas sei que as pessoas do Médio Oriente são das mais hospitaleiras do mundo e muito sinceramente queria saber a história dele e a versão dele sobre a guerra na Síria.

Passámos várias horas a falar sobre o assunto. Conseguia ver-lhe a dor estampada no rosto, apesar de falar em esperança. Não sendo um assunto fácil, percebo que queira falar sobre ele. Passar a mensagem sobre o que viu e viveu antes de ir para a Malásia. O Khaldoun (como se chama) é de Damascus, a capital, onde há 6 anos começaram os protestos contra o regime ditatorial de Hassad. Os protestos que correram o médio Oriente na chamada primavera árabe rapidamente se tornaram num banho de sangue na Síria. Os protestantes eram mortos ou presos e torturados. O conflito escalou ao ponto das pessoas se reunirem e formarem a Free Army, um exército anti governo que queria devolver o poder às pessoas. Disse-me que muitos amigos dele se tinham juntado e que ele também se queria juntar e preferia ter ficado na Síria a lutar pelo país.

Mas num dos protestos o irmão foi preso durante 6 dias e quando voltou não era o mesmo (entretanto recuperou). A mãe pegou na família toda e tratou de sair do país enquanto ainda havia essa possibilidade.
Entretanto, há seis anos que observam o seu país a ser consecutivamente destruído, recebem notícias de amigos que morreram na guerra por motivos que ninguém compreende bem. A única questão é mesmo porquê? E até quando?

Numa nota mais leve, a comida Síria é deliciosa. A combinação de especiarias é perfeita e levou-me directamente para o Médio Oriente. Acho que para ele é como uma espécie de refúgio num lugar que está a milhares de quilómetros de casa tanto a nível geográfico como a nível cultural.
No último dia, ele convidou também a minha amiga alemã para ir jantar lá a casa e comer um prato tradicional da Síria. Durante o jantar ele agradeceu-lhe pela quantidade de refugiados que a Alemanha acolheu e disse que iria sempre ajudar/dar guarida a qualquer alemão que precisasse. À pergunta “queres voltar um dia à Síria” a resposta é um sim bem claro. E tenho a certeza que isto se passa com a grande maioria dos Sírios. Há uma urgência de voltarem ao país que tanto amam e que é a sua verdadeira casa. Querem as suas tradições, casas, famílias, comidas e vidas de volta. Mas de momento a Síria é um campo de batalha que só consome vidas. Quem diz “deviam é voltar para a terra deles” estão a dizer que basicamente deviam morrer, quando nós não conseguimos sequer imaginar uma guerra, quanto mais o nosso país a ser completamente devastado por bombas, ataques químicos e sabe-se lá mais o quê.
Enfim, não podia deixar de partilhar esta parte da minha visita a Penang.

Aconselho definitivamente uma visita, nem que seja só a Georgetown. É uma cidade única e muito curiosa que vale a pena visitar. Eu não sabia ao que ia e acabei por ter dois dias espectaculares e uma das noites mais divertidas da minha vida!

Dicas rápidas:

Transporte: Georgetown tem um centro muito pequeno mas precisares aconselho-te a fazeres download da app Grab. Funciona como a Uber mas é bastante mais barata. Adorei todos os motoristas da Malásia! São super simpáticos e curiosos por isso as tuas viagens vão ser bem mais divertidas!

Cartão SIM: No centro comercial Komtar, perto do Starbucks, existe uma loja que vende cartões SIM para turistas. Funcionam durante 8 dias e tens direito a 3.8gb de internet. Custam 20 RM
Alojamento: Se ficares num hostel aconselho a Love Lane ou as ruas à volta como melhor local. Vais encontrar imensos viajantes e é mais fácil de travar amizades 🙂

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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