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Austrália

Whitsundays: dois dias de “espancamento” no mar

De toda a Austrália, a Whitehaven Beach era o sítio que eu mais queria ver. Uma pesquisa rápida no Google mostra-nos um cenário de beleza impossível com uma areia mais branca que o branco, exposta como uma tela pintada com traços de azul esmeralda.

E depois o furacão Debbie aconteceu. E deixou um rasto de destruição tal que um mês depois ainda era possível ver claramente os estragos da sua passagem.

Quero dizer que agora, que já passaram 5 meses (quando estive lá) + x ( x = mês em que leres isto) tudo já voltou à normalidade e que visitar as ilhas Whitsundays deve ser novamente uma experiência arrebatadora. Em Abril de 2017 foi uma experiência que adorei, não tanto pelas paisagens mas pela oportunidade de viajar e dormir num barco à vela com outras 28 pessoas!

Como íamos num barco acho que esta aventura deve ser descrita em forma diário de bordo:

Dia 0 – Airlie Beach

Chegada a Airlie Beach vou até ao hostel e descubro que até é possível que existam bons hostels na Austrália a preços razoáveis. 15€ por noite e estou num bungalow de 6 com casa de banho e wifi. Luxo!!! Enquanto leio o meu livro chegam três rapazes que falam uma língua estranha e no meio daquele chorrilho de sons imperceptíveis que só os nórdicos conseguem expelir oiço “spank me”. E fico logo atenta. Não por achar que estão a falar de pornografia, mas porque era o nome do barco onde ia passar os dois dias seguintes. Perguntei-lhes se também iam, disseram que sim. Eram Suecos e passado 5 minutos já éramos todos amigos!

Dia 1 – High side and Suicide

Às 9 da manhã estávamos todos pontualmente no check in. Nós mais três dinamarqueses que os suecos já conheciam de uma outra tour. A team Escandinávia + Portugal estava completa. Quando eles dizem para fazer o check in às nove não é porque o barco parte às nove… É só porque lhes apetece. Portanto, ficámos a saber que tínhamos que esperar até às 12.30 e fazer tempo até lá. Giríssimo! Depois das três horas e meia que pareceram 5 lá fomos para o barco.

O capitão, ou deus, como queria que lhe chamássemos, tinha um sentido de humor bem apurado. Já no barco, rapidamente nos ensinou que havia um High Side (onde devíamos ficar) e um Suicide onde provavelmente seríamos mandados borda fora. No início aquilo é um bocado assustador porque o barco não é assim tão grande e fica numa posição estranhamente vertical.

Neste dia aprendemos as regras básicas dum veleiro, apanhámos sol e vento e muitos salpicos (quase banhos, vá). Ao pôr do sol começou a ficar fresquinho e atracámos numa baía. Rapidamente percebemos que apesar do nome aquele não era um party boat. Os drinking games eram proibidos por isso jogámos jogos onde sugeríamos fortemente que se bebesse. Para além do capitão, o resto da equipa era constituída por um rapaz que parecia o Khal Drogo e outro que parecia um Junkie surfista, mas eram os dois muito engraçados.

Dia 2 – Oh Debbie…

Acordámos cedo para alcançarmos a Whitehaven Beach antes da maioria dos barcos. Fomos relativamente bem sucedidos, mas pelo caminho tivemos que sobreviver a um naufrágio.

Enquanto o veleiro fica no mar, um barco mais pequeno guiado pelo Tom (o Junkie surfista) leva pessoas até à praia em pequenos grupos. Eu e a equipa escandinava mais dois neozelandês ficámos para último e então o barco foi com 6 ou 7 rapazes gigantes e duas raparigas. A meio caminho, o Tom diz com um sorriso despreocupado que o barco está a meter água. Passado dois minutos o barco está claramente a meter muita água e abrandar. Já todos nos estamos a rir, mas naquela “vamos claramente naufragar aqui” . A uns 30 metros da costa o Tom grita “SALTEM TODOS” uma vez que o barco estava quase debaixo de água e não dava jeito darmos cabo do motor. E saltámos. Felizmente estávamos todos de fato de banho e quando saltámos a água dava-me pelo pescoço. A eles devia dar pelo joelho… Consegui salvar a minha mala e lá chegámos à Whitehaven Beach de uma forma muito survivor.

O primeiro pensamento que tive foi que estávamos num sonho. Para todo o lado onde olhava via branco, branco e branco. Mas o que queríamos era chegar ao miradouro para ver a praia de cima. Pelo caminho (uns 15 minutos a andar) vimos um cenário um pouco desolador com as árvores todas partidas e nenhum tipo de vida selvagem que caracteriza, normalmente, aquela ilha.

  • as fotografias foram tiradas com a GoPro, já a antecipar o potencial naufrágio, por isso a qualidade não é a melhor.

Mesmo com o mau tempo e com a água de uma cor não tão azul, a Whitehaven Beach era lindíssima. E estava mesmo a pedir uns mergulhos! Voltámos para baixo e entretivemo-nos a perseguir caranguejos, jogar frisbee (sou uma nulidade em jogos de atirar coisas) e a tomar banho. Tomar banho no mar na Austrália é sempre uma experiência que me faz ter apreço pela vida, porque cada vez que saio do mar penso “sobrevivi!”

Apanhámos uma molha imensa antes de irmos para o barco (Abril tem destas coisas) e durante a tarde fizemos várias tentativas falhadas de snorkeling. Depois do furacão a visibilidade debaixo de água era algo como 20 cm. Para compensar, o jantar foi fantástico, uma quantidade infinita de esparguete à bolonhesa.

Dia 3 – Terra à vista

Acordei com dores nos braços porque no dia anterior o Khal Drogo disse que precisava de três homens fortes para içar as velas e como eu estava à mão fui eu e mais dois homens efectivamente fortes… Eram 6 da manhã, um belo friozinho e tudo acordado porque queriam ir ver tartarugas. Claro que eu sabia que com aquela visibilidade as chances de vermos tartarugas tendiam para 0 mas pronto, lá fomos e vimos uns peixinhos giros. O resto do dia foi passado a velejar e a apanhar sol até chegarmos a terra.

Nascer do sol 🙂

Estávamos todos felizes por voltarmos a ver casas de banho com autoclismos normais e duches. Mais uma vez tivemos que fazer tempo porque tínhamos um autocarro às 10 da noite e por isso passámos horas a ver séries e a ler livros.

E foram assim os meus dias no mar! Tive a sorte de apanhar um grupo muito fixe o que tornou a viagem muito melhor. Se quiseres uma coisa mais festiva aconselho outro barco porque este é bastante calminho.

Dicas rápidas:
Airlie Beach em si não tem nada para ver/fazer, nem praia. Suponho que no próximo ano as piscinas e a Costal Walk já estejam activas novamente, mas mesmo assim não passaria aqui mais que um dia.
Alojamento: Aconselho o Magnums Backpackers. Muito boas condições por um preço bastante decente e com um supermercado gigante ao lado.
Transporte: a estação de autocarros fica a 15 minutos a pé do centro. Greyhound, Premier bus e outras companhias passam por lá.
Para reservar um lugar nos barcos desta companhia fica aqui o link

Alfacinha germinada e cultivada num cantinho à beira mar plantado, a Inês tem uma certa inquietação que não a deixa ficar muito tempo tempo no mesmo sítio. Fez Erasmus em Paris, trabalhou em Istambul e em Portugal, fez um mestrado em Creative Advertising em Milão e agora trabalha no Reino Unido. Viajar, criatividade, cozinhar, dançar e ler são algumas das suas paixões. A combinação de algumas delas deu origem a este blog, o Mudanças Constantes. Bem-vindos!

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